Rede mundial contra o fascismo e os ataque aos direitos trabalhistas

No Congresso da Contracs, dirigentes de organizações internacionais apontam que mundo vive momento de retrocessos

Com idiomas diferentes, mas unidas pela mesma luta, lideranças sindicais internacionais da América do Sul, América do Norte e Europa destacaram, durante a mesa do que avaliou o cenário sindical internacional no 10º Congresso da Contracs, a necessidade de construir uma plataforma conjunta em defesa dos direitos trabalhistas.

Da mesma forma que no Brasil, dirigentes de organizações como a estadunidense UFCW (União dos Comerciários e Trabalhadores na Indústria Alimentícia) enfrentam uma onda reacionária que invariavelmente elege a classe trabalhadora como inimiga, conforme apontou Stanley Gacek.

“Dado o pesadelo do governo do Trump e o golpe da reforma trabalhista e o governo de Bolsonaro, o movimento sindical brasileiro e o americano têm mais em comum do que nunca
Ao se reuniram em 19 de março para conspirar e costurar uma agenda nepotista, antissindical, antioperária, sob disfarce da retórica populista, nos apontaram que precisamos também nos encontrar e trabalharmos  juntos como nunca antes fizemos”, falou.

Gacek foi quem puxou uma fila de homenagens e de pedido do fim da prisão política de um velho conhecido da organização trabalhista internacional. “Lula continua como inspiração a todos nós, do mundo inteiro, e não vamos parar até conseguirmos sua libertação desta prisão política. Esta crise comum é a nossa oportunidade. Fora a reforma previdenciária golpista! Lula livre!”

A visão de uma batalha comum também esteve presente na intervenção de  Hector Casllano, da uruguaia Fuecys (Federação Uruguaia dos Trabalhadores do Comércio e Serviços).

“O movimento sindical latino-americano cometeria um erro se não entendesse que a luta trabalhista do Brasil não é só brasileira, mas de classes. Não é casualidade os anos de prosperidade para os mais pobres com governos progressistas, assim como não é casualidade que com o regime atual na América Latina exista retrocesso para a classe trabalhadora. Não só questão de salário, mas todas as conquistas, somos inimigos de classe dos fascistas”, apontou.

 

Sindicato é quem faz a diferença

Ao citar o exemplo do Peru, o presidente da Uni America Comercio, José Luis Oberto, lembrou que quando não havia sindicato no país, o setor de comércio passou oito anos sem aumento salarial e, como as lideranças que a antecederam, Ashwini Sukthankar, da United Here, também falou sobre a necessidade de globalizar o enfrentamento.

“O mundo mudou, nossa estratégia de parceria também tem de mudar. Estamos encarando governos racistas e fascistas, tanto no Brasil quanto EUA, e lutando por nossas próprias vidas. Sinto, porém, que não estamos apenas numa luta defensiva, mas também tentando tomar a ofensiva e acreditamos que não iremos ganhar se não levarmos trabalhadores para as ruas”, disse.

Pela Uni Comércio América, Henry Oliveira foi mais um dirigente a defender uma união de classes para além das categorias.

“Dizem que a noite é mais escura quando vai amanhecer e creio que este é o momento que estamos vivendo. Temos de buscar parcerias, não só com o movimento sindical, mas também sociais. Somos todos trabalhadores, não há diferença entre trabalhador de comércio e de banco, todos seremos afetados pela mesma situação, então, devemos mirar a unidade para atuar em conjunto. Queremos ver de volta o Brasil que sempre esteve na vanguarda da civilização”.

Pela italiana Filcams CGIL, Marco Beretta lembrou da manipulação midiática que impera tanto na Itália quanto no Brasil e referendou a necessidade de unificar as lutas.

“Há muitas coisas em comum entre Itália e Brasil, dois países com governos racistas e fascistas que usam meios de comunicação para desorientar os cidadãos e trazer um falso consenso. Temos uma tarefa que é falar com todos os trabalhadores para que entendam que esses governos não seguem os interesses dos mais fracos, os trabalhadores, e sim dos patrões. Temos um desafio, que não é só italiano ou europeu, mas mundial, lutar contra essas políticas criando uma rede entre nós”, sugeriu.

 

Lição de casa

Representante da ISP (Internacional dos Serviços Públicos), a ex-dirigente da CUT, Denise Motta Dau, tratou da importância de profissionalizar o processo de sindicalização para garantir a autonomia dos sindicatos.

“Precisamos de campanhas fortes de sindicalização, inclusive contratando pessoas que pensem maneiras de realizar o trabalho de base por meio de um diálogo mais lúdico, com peças de teatro, eventos alternativos e também usando a tecnologia. É um campo em que precisamos muito nos qualificar. Não nos esqueçamos que o campo progressista perdeu essas eleições muito por conta das fake news. Será a contribuição dos trabalhadores que fará com que os sindicatos tenham autonomia de sustentação”, disse.

Denise defendeu ainda a fusão de entidades para ampliar a capacidade de negociação com os patrões e a importância de as organizações buscarem ampliar, ao invés de minimizar a capacidade de representação.

“É preciso dialogar com a diversidade que há na base para representar terceirizados, trabalhadores intermitentes, ampliar a base para que os sindicatos avancem na representação de ramos e não de categorias profissionais. Essa é nossa realidade”, alertou.

Para ela, também é preciso mostrar que o Brasil de 2019 segue na contramão do mundo e da história.

“A OIT (Organização Internacional do Trabalho) apresentou um estudo que demonstra, dos 30 países que privatizaram a Previdência, 18 recuaram, entre eles México, Peru Colômbia e Chile, porque reduz benefício, aumenta idade e, assim, expande a situação de miséria. Há vários países reestatizando a gestão de água e luz, como França, Alemanha  e Argentina, porque aumentou a tarifa, não tem controle social, não responde demandas coletivas da sociedade, e o Brasil vai caminhando para privatizar”, criticou.

 

Fonte: Contracs | Escrito por: Luiz Carvalho

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