Proposta do governo de aumentar vale-gás é ineficaz, diz especialista
Subsídio não resolve problema econômico de milhões de famílias que não têm nenhum renda e precisam escolher entre pagar contas, comer ou comprar o gás
Ignorando mais uma vez a tragédia de grande parte da população, e lançando mão de medidas que não resolvem efetivamente os problemas de milhões de brasileiros que não conseguem comprar gás de cozinha desde que os preços dispararam, em 2019, o governo de Jair Bolsonaro (PL) quer pagar o vale-gás de, em média, R$ 50, todos os meses.
Atualmente, o benefício é pago a cada dois meses e a ideia é que as famílias possam comprar o botijão de 13 quilos gás que, em algumas cidades do Brasil chega a custar R$ 160. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de abril de 2021 a abril deste ano, o preço do botijão de gás aumentou mais de 32% no Brasil.
Outra hipótese que vem sendo analisada pelo governo é dobrar o valor do vale-gás de cozinha para as cerca de 5,7 milhões de famílias beneficiadas, um ato eleitoreiro para tentar cativar votos. Todas as pesquisas de intenção de voto mostram que se o pleito fosse hoje, Bolsonaro seria derrotado pelo ex-presidente Lula já no primeiro turno.
“O governo não se preocupou com isso durante todo o período, desde 2019 quando Bolsonaro assumiu, e agora, às vésperas da eleição, quer ampliar o vale-gás e dar um auxílio diesel aos caminhoneiros”, criticou o coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), Tezeu Bezerra.
O dirigente lembra ainda outra medida que não resolve o problema do alto preço dos combustíveis, pensada pelo atual governo. É a proposta que tramita no Congresso de redução do ICMS dos estados para tentar segurar os preços dos combustíveis. Além de reduzir recursos para saúde e educação dos estados, essa ‘terceirização’ da responsabilidade pelos altos preços dos combustíveis, inclusive o gás de cozinha, teria, de acordo com a proposta, um prazo de vencimento.
“A redução do ICMS seria somente até dezembro deste ano, não é permanente. E depois, como ficaria?”, questiona Tezeu.
A única e mais sensata solução para acabar com a farra dos reajustes, conforme apontam especialistas, é o fim da política da Petrobras de Preços de Paridade de Importação (PPI), criada no governo do ilegítimo Michel Temer (MDB) e mantida por Bolsonaro, portanto, de responsabilidade do atual mandatário.
Ou seja, como o governo é o maior acionista da Petrobras, com 53% das ações, e tem poder de escolha tanto do presidente como da maioria dos conselheiros da estatal, uma decisão correta seria acabar com o PPI e tirar a corda do pescoço do Brasil.
Mas Bolsonaro tem jogado a culpa pelos altos preços tanto nos estados como na própria Petrobras. “É para tentar fugir dos baixos índices de aceitação. Na verdade, eles estão preocupados somente em manter lucros dos acionistas e manter os importadores que se instalaram no Brasil após a PPI”, diz Tezeu ressaltando que, antes do PPI, o país tinha de cem empresas importadoras de refinados e hoje são mais de 400.
O povo como fica?
Enquanto o país e a maior parte da população sofre com a baixa renda, o desemprego ou a tentava de sobreviver com trabalho precário, sem direitos, a Petrobras vai muito bem e extraindo do poço do Brasil lucros bilionários que têm destino certo – os acionistas.
A pergunta central a ser feita, de acordo Tezeu Bezerra, é “a quem serve a Petrobras e o país hoje?”
E ele explica. “É somente aos ricos. Os pobres estão cada vez mais pobres e sem perspectivas de melhoria. Inflação e retomada da economia são deixados de lado. A prova disso é que a previsão para este ano é que os acionistas da Petrobras recebam mais até do que o próprio lucro”.
O dirigente conta que no ano passado, a estatal lucrou cerca de R$ 106 bilhões, dos quais R$ 101 bi foram repassados aos acionistas.
“Enquanto isso o povo passa fome, não pode comprar o gás, não coloca gasolina, a inflação cresce por causa do preço dos combustíveis”, completa Tezeu.
Auxílio gás
O benefício passou a valer em novembro de 2021. Cerca de 5,7 milhões de famílias recebem um voucher de R$ 53,00 a cada dois meses. De acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), divulgados pela Folha de SP, as vendas de gás de cozinha caíram 5,6% nos primeiros quatro meses deste ano – é o menor volume de vendas desde 2017 – indicando que o valor do vale-gás não atende às necessidades das famílias. O preço médio nacional, de acordo com a agência é de R$ 113,54. No entanto, em algumas regiões pode chegar até a R$ 160,00, caso de cidades do Mato Grosso.
Fonte: CUT Brasil | Escrito por: Andre Accarini | Editado por: Marize Muniz | Foto: André Accarini